segunda-feira, 26 de julho de 2010

2- 4º Parte


-Antes de começar o interrogatório queria falar com o meu cliente a sós.
-Mariquices pá- reclamava o delegado.-fique lá a sós com o seu cliente. -dito isto, saiu da sala.
-Espero que os microfones estejam desligados, caso contrário são escutas ilegais- disse Freddie em tom de aviso.
-Então é assim,tens que responder às perguntas dele, e ele não te vai facilitar a vida. Fala o menos possível, com resposta de sim e não, qualquer coisa que disseres ele pode interpretar como quiser e meter na cabeça que és culpado. Percebeste ?
-Sim.
-Muito bem ! É assim que tens que responder. E tenta não te exaltar porque ele vai te provocar e muito. Já conheço o tipo.
-Ok.
Freddie levantou-se foi até à porta e comunicou que já estava pronto.
-Já podemos começar ?
-Sim, já podemos- disse Freddie.
O homem apesar da idade era muito ágil e rijo, e a sua voz era forte e empunha-se dentro do vazio que era aquela sala.
-Conhecia Susie Harter ?
-Sim.
-De onde a conhecia ?
-Foi minha colega na escola por muito tempo, e era minha vizinha.
-Como era a sua relação com ela?
-Normal.
-Normal ? Normal como ?
-Era normal.
-Eram amigos ?
-Sim, pode se dizer que sim.
-Então ela contava-lhe coisas da intimidade dela ?
-Não. Nunca foi muito uma mulher de palavras ela.
-Era uma mulher de actos ?
-Sim.
-Algum acto que o incomodou ?
Um frio correu por toda a sua espinha, uma gota de suor escorreu na testa. Ele sabia que ia ter que contar o que acontecera realmente há um ano atrás, quando a Susie raptou-a.
-Sim.
-Interessante, importa-se de dizer o que aconteceu ?
-Ela raptou a minha namorada.
Acabou de nos dar o caso-Motivo, ele tem o motivo para o fazer. Se ele continuar a dar-nos informações assim em breve vai estar atrás das grades- Pensava o delegado para si.
-Raptou a sua namorada ? Mas isso não tinha sido um homem a quem chamavam de O Gordo ?
-Sim, a mando da Susie.
-Então o que me está a dizer é que a Susie mandou raptar a sua namorada ?
-Sim.
-Muito bem, quando foi a ultima vez que a viu ?
Ele sabia que as coisas não estavam a ir nada bem, e pareciam estar a ficar cada vez piores. O Freddie disse-lhe ao ouvido que ele não tinha que responder. Ele não sabia o que fazer. Ficou calado.
-Não vais responder ?
Ele continuou em silencio.
-Eu vou ser sincero contigo, não tenho nada contra ti, tirando a parte que acredito que possas ter assassinado alguém. Para ti explicar o que aconteceu é o melhor que podes fazer, nós temos testemunhas que te viram no local onde o corpo foi encontrado na presença da Susie há um ano atrás, na mesma altura que ela desapareceu do mapa. Se preferires ficar calado eu deduzo que a matas-te e enterraste-a no meio do gelo. Já temos um motivo, a ligação à vitima, a presença no local do crime. O caso está bem construído.-Disse isto levantando-se e preparando-se para deixar a sala.
-Não! Espere, eu falo.
-Eu terei gosto em ouvi-lo. Na verdade não terei, mas tenho que ouvir.
-Eu levei a Susie à Estação de comboios, ela estava na minha casa naquela noite, e eu descobri que ela estava por trás do rapto. Levei-a à estação e mandei-a desaparecer, nunca mais a queria ver.Dei-lhe dinheiro, 500 dólares para ser mais preciso,afastei-me dela e certifiquei-me de que ela comprava um bilhete e entrava no comboio.
-Então esta a dizer-me que viu a miss Harter a entrar no comboio ?
-Sim.
-Porque não a entregou à policia ? Porque nunca disse nada sobre ela estar por trás de tudo ?
-Ela era minha amiga de longa data, pensei que se trata-se de ciúmes, não sei, achei que se ela desaparecesse do mapa era mais fácil.
-Muito bem, terminamos por aqui. Vai ter que permanecer aqui na esquadra.
Freddie só agora falara:
-Permanecer aqui ?
-Sim-disse o delegado- temos que falar com a senhora Jenny, e não pode haver contacto entre o senhor Johnny e ela.
-Percebo.

........   ........   ........   ........   ........   ........  ........  ........  ........

-Passos, ela ouvia passos, estava apertada, não se conseguia mexer, angústia.-Quem está ai ?-perguntava com uma voz trémula e apavorada. Estava deitada na sua cama mas não se conseguia mexer, grande era o esforço mental, mas o corpo não respondia com um único movimento, incapacidade. Quem está ai ?- perguntava novamente, os passos estavam cada vez mais próximos. Foi com horror que olhando para o ombro, uma das poucas coisas que o seu campo de visão actual conseguia alcançar, viu sangue, sangue que saia dos vários pequenos orifícios provocados pela incisão de agulhas, horror. Quem está ai ?- foi a última vez que perguntou antes que uma luz a ofuscasse por completo.
-Larga-me ! Deixa-me em paz ! Vai embora !
-Calma, sou eu, a Natalie. O que se passa ?
-Larga-me !
-Calma.
-Natalie ?
-Sim, sou eu. Tem calma, está tudo bem. O que foi isso ?
-Foi só um pesadelo.
-Sentando-se na cama disse: Passei por aqui para ver como é que estavas.
-Estou bem, o Johnny está na esquadra, ainda não tenho noticias.
-Estás bem ? Estavas bastante assustada quando aqui cheguei. Já falas-te com o Glik ?
-Não, ainda não. Podias ser tu a avisa-lo ?
-Ok, eu aviso. Agora tenho que ir trabalhar. Mais logo passo aqui.-disse, dando-lhe um beijo na testa e passando a mão na cara. Tinha uma amiga de verdade, era estranho, nunca na vida tinha tido uma assim. O telefone começou a tocar.
-Jenny Ferry ?
-Sim, sou eu.
-Daqui é o  delegado Herikson, preciso que compareça na esquadra para interrogatório.
-E está a dizer-me isto por telefone ?
-Não gosto de perder tempo com formalidades inúteis.
-Muito bem,  quando e a que horas ?

.........   .........   .........   .........   .........   .........   .........   .........   .........   .........

-Pai? Fala comigo ? Pai? Não me deixes, fala comigo.  Não, isso não é verdade, não pode ser verdade. Não me faças isso.- dizia enquanto chorava, gritava, batia em tudo à sua volta, revoltava-se e sentia-se mais fraca que nunca. Viu tudo o que acontecera, como o pai saíra do carro para ligar à ajuda na cabine de emergência da estrada, mas não chegou ao outro lado. Um carro, um mercedez que circulava em alta velocidade atropelara-o. Ela tinha visto o carro antes ainda saiu do carro e gritou- Pai ! Sai dai ! - mas já foi tarde demais. Os olhos dela ficaram paralisados, ela ficou paralisada. Sabia o que estava a ver mas não conseguia acreditar. Estava em negação. Saiu do carro e correu em direcção ao corpo ensanguentado do pai. Sabia que ele estava morto mas não o queria aceitar.
-Menina, desculpe, meu Deus o que e fui fazer- dizia o homem do mercedez, estava branco como uma parede, também ele estava em choque. -Vou ligar aos bombeiros, à policia. Não sei. Quer que ligue a alguem ?
Ele falava, mas ela não ouvia uma palavra. O seu mundo tinha desabado mesmo à frente dos seus olhos. Sem que ela o pudesse evitar. Sentia-se inútil, impotente. Triste e desesperada.

.........   .........   .........   .........   .........   .........   .........   .........   .........   .........

-Onde estava no dia em que Susie Harter desapareceu ?
-No hospital.
-Sabia que o seu namorado estava com Susie e que a ia levar para a estação ?
-Não. Não sabia de nada.
-Está a dizer-me que ele lhe mentiu sobre o que aconteceu ?
-Não.
-Se ele não lhe mentiu como poderia você não saber que ele estava com ela ?
-Porque nunca falamos no assunto. Ou pelo menos nunca falamos muito. Pouco tempo depois perguntei por ela, e ele disse-me que estava tudo resolvido. Vi que ele não queria falar sobre isso, então nunca mais toquei no assunto.
-Porque acha que ele não queria falar nisso ?
-Porque era um assunto que o magoava. Eles eram muito amigos.
-Muito amigos ? Como assim ?
-Falavam muito. Não sei ao certo. Já se conheciam há muito tempo, e havia certas coisas que só eles percebiam.
-Sabe de algum motivo que o podia levar a matar a Susie Harter ?
-Não, não faço ideia. Para além do facto de ela estar por trás do meu rapto, não sei de nada. Eu e ele não falávamos muito sobre ela.
-Eles já foram namorados? o Johnny e Susie Harter ?
-Não sei novamente.
-Sabe se alguém tinha motivos para não gostar dela ?
-Para além de mim não. E como eu não a matei não ajuda nada.
-Acabamos. Vamos falar outra vez.
-O Johnny ?
-Ele vai ficar por aqui, em prisão preventiva.
-Posso vê-lo ?
-Infelizmente, por enquanto não.


Nenhum comentário:

Postar um comentário