As luzes azuis e vermelhas iluminavam a estrada, uma fila interminável de carros esperava para que a estrada fosse reaberta. Os gritos e choro eram abafados pelo barulho dos motores. Os bombeiros tentaram por várias vezes reanima-lo, mas foi em vão. Estava morto, e agora já não lhe restava mais ninguém, a mãe morrera um ano atrás, agora o pai desaparecia mesmo à frente dos seus olhos, não tinha mais ninguém no mundo. Uma semana já tinha passado, passara esse tempo sozinha em casa enquanto os processos legais eram tratados pelas autoridades. Durante esse tempo a única companhia que tinha era do seu namorado que ia lá todos os dias. Ele tinha 17 anos tal como ela, o namoro já durava dois anos. Conheceram-se na escola, eram os dois da mesma turma, e tudo começou quando se juntaram para fazer um trabalho na aula de artes. Tiveram que passar muitas horas juntos, na casa de um e do outro e isso aproximou-os. Quando deram por si estavam juntos. Apesar de frequentarem uma das escolas menos problemáticas da cidade as coisas não eram fáceis por lá. Era uma escola pública, onde apenas aqueles que tinham menores possibilidades andavam, todos os alunos ricos estudavam em escolas privadas. Isso gerava uma espécie de rivalidade entre escolas privadas e públicas em termos de violência. Haviam muitas vezes confrontos entre os gangues das escolas publicas e os meninos ricos. Por isso dentro da escola pública todos eram muito indiferentes uns aos outros, se eras rico e estavas na escola publica a tua vida ia ser um inferno, se eras um aluno de classe média e não chamasses a atenção eras mais um, se levantasses alvoroço estavas feito. Ali a escola pertencia aos mais desfavorecidos. Ela encaixava-se naqueles alunos normais, que chamava o menos de atenção possível. Estava sempre sozinha, não tinha amigas, costumava estar sempre na biblioteca ou num canto a ouvir música. Ele fazia parte da turma de artes tal como ela, mas também fazia parte da equipa de basket da escola. Isso fazia com que fosse conhecido. Era das poucas actividades que tornava alguém "popular" ali. E por consequência também era mal visto por muitos.
-Estou aqui em baixo-disse-lhe ele por telemóvel- anda abrir a porta.
-Estas a brincar comigo? Entra, sabes bem que a porta esta aberta Mitch.
-Sim eu sei, mas queria ter a certeza que podia entrar. Não queria te apanhar na casa de banho. Sabes o que dizem sobre o namorado encontrar a rapariga ... tu sabes.
-Não sejas parvo, sobe. Já tinha saudades tuas.
Ela vivia numa casa nos subúrbios de Detroit, a zona mais pacífica dos subúrbios, mesmo assim o nível de criminalidade era elevado. Já tinham assaltado a casa dela três vezes desde que ela tinha nascido.Foi devido a essa criminalidade que a mão dela morreu, há um ano atrás viu-se no meio de uma perseguição que a policia estava a fazer a 4 indivíduos que dirigiam um carro roubado, tiros de metralhadora desses indivíduos atingiram o carro da mãe dela, acertando-lhe na cabeça. Foi morte imediata.
Vivia numa casa grande, não uma casa luxuosa, ou que chama-se a atenção. Era branca com telhado azul escuro, tinha dois andares, já não era uma casa mas estava bem conservada. Em frente tinha um pequeno jardim com duas árvores mais altas que a casa, o jardim parecia abandonado, nunca ninguém se dera ao trabalho de cuidar dele. Por trás da casa tinham um pequeno campo de basket, onde ela costumava jogar quando tinha tempo, e nos últimos dois anos também o Mitch lá costumava jogar. À volta do campo haviam várias árvores e arbustos onde ela costumava brincar quando criança, agora só ia para lá quando queria estar sozinha e pensar.O terreno da casa era limitado por um muro alto, que fazia a separação entre a casa dela e das casas que estavam à volta.
-Radiohead?
-Sim Mitch, não quero ouvir mais nada.
-Não queres ouvir a minha voz então ?
-Não sejas estúpido, é claro que quero.
-Já sabes o que vai acontecer ?
-Ainda não sei ao certo, como já não tenho parentes próximos provavelmente vão me mandar para o sistema, onde vou ter que ficar numa instituição até que alguém me queira adoptar. E como toda a gente quer uma adolescente novinha em folha em casa eu vou ser adoptada muito rápido.
-A tua ironia tem andado em alta nos últimos tempos, sem dúvida.
-Ainda existe outra hipótese, o meu padrinho que mora no centro da cidade.
-Tens um padrinho ?
-Claro, toda a gente tem um padrinho, pelo pouco que me lembro dele ele era altamente, mesmo simpático, eu adorava-o. Mas depois ele mudou-se para o centro e começou a vir aqui com muito pouca frequência. Vão entrar em contacto com ele, porque ele é a pessoa mais próxima que tenho, e se ele puder talvez vá ficar com ele.
-Isso quer dizer que vais sair daqui e ir para o centro ?
-Talvez, não sei. Mas é preferível ir para o centro daqui do que ir para outro estado, ou algo assim.
-É verdade. Agora vem aqui, que eu tenho saudades tuas.
-Eu também.
Passaram o dia no quarto, tal como faziam durante toda a semana. E desta vez ele passou lá a noite. Não queria deixa-la sozinha, tinha medo que algo pudesse acontecer.
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-Bem, foi isso que eles disseram nos interrogatórios como puderam ver. Tudo indica que ele possa estar ligado à morte dela, no entanto não temos provas concretas. Temos um motivo, e temos a presença dele no local do crime, mas isso não prova nada. Precisamos encontrar algo concreto.
Foi assim que começou a reunião da equipa que estava responsável por apurar as circunstâncias da morte de Susie Harter. A equipa era composta por 4 elementos principais para além do delegado Herikson que que comandava a equipa. Debra Linch, uma policia de 35 anos que auxiliava o agente Derek Jerl no trabalho de campo, ele já tinha 47 anos, e muita experiência na polícia, já tinha ajudado na apreensão de vários criminosos do topo do crime em Detroit, ela embora não estivesse na polícia há muito tempo tinha ganho visibilidade porque em campo era uma estratega nata, poucos tinham capacidade para organizar buscas e reagir com sangue frio em situações críticas. A presença destes dois elementos foi muito contestada no início pelos superiores de Herikson uma vez que era um caso em que pareciam ser mais úteis agentes com experiência na área de homicídios individuais e não ligados a grandes grupos de crime organizado ou especialistas em intervenção no campo. Mas uma vez que Herikson sabia onde estava, e que em Detroit nada acontece por acaso, e que sempre coisas inesperadas podem vir à tona sabia que poderia ser útil para a equipa a presença de agentes como a Debra e o Derek. Já antes trabalhara com eles, e sabia que eram grandes profissionais.
O resto da equipa era composto por Lion Grant, que apesar de ter muito mau feitio caracterizava-se por ver evidencias onde mais ninguém as conseguia ver, era especialista em interrogatórios, conseguia manipular como ninguém, ele e Herikson eram uma das mais famosas duplas da policia, já há anos que trabalhavam juntos, e sempre foram bem sucedidos. O último elemento da equipa tinha sido escolhida pelo superior do Herikson, não foi bem escolhida mas sim recomendada.Rose Bartsk, era jovem tinha apenas 28 anos, entrara com sucesso na policia, tinha potencial e Herikson sabia disso, foi por isso que a aceitou na equipa.
-Porque havia ela de ter entrado no comboio e depois saído ? - disse Rose.
-Talvez nunca tenha entrado e ele esteja a mentir. Se ele realmente é culpado mentiu.- disse Derek.
-Ao dizer que ela entrou no comboio ele esta a afirmar que ou ela voltou a sair do comboio depois, ou que de facto fez a viagem e depois voltou...
-Parem, vamos não por a carroça à frente dos bois. Não vale a pena estarmos a fazer teorias e a pensar em hipóteses com o pouco material que temos em mãos. Primeiro temos que ter o que avaliar. Portanto vamos nos organizar. Rose, tu ficas encarregue de procurar tudo o que puderes sobre a Susie e sobre o Johnny e a Jenny. Todos os dados sobre eles são importante. Debra e Derek, vocês ficam encarregues de ir até à estação falar com todos os funcionários de lá, falar com a policia local para eles vos passarem a informação que tem. Depois disso quero que perguntem se existem gravações da estação e do comboio naquela altura e no caso de existirem quero que as mandem para o departamento dos gajos dos computadores para que eles analisem as imagens minuciosamente para tentarmos encontrar a Susie e o Johnny. Lion tu ficas comigo aqui na esquadra para os interrogatórios.
-Mãos à obra!
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-Bom dia.
-Bom dia.
-Queria falar com a Jenny Ferry ?
-Sou eu.
-Sou da assistência social. E tenho um assunto que diz respeito a Johnny Wester para tratar.
-Sim, estou a ouvir.
-O senhor Jonnhy tem uma afilhada, chamada Carolina, os pais dela morreram ambos e não lhe resta mais ninguém, o parente mais próximo dela é o senhor Johnny, e uma vez que ele encontra-se em suspeita de homicídio e preso eu falei com o advogado dele que me disse para falar consigo.
-Estou a ver, então a questão é se ele quer ou não ficar com a guarda dela ?
-Exacto, não sabemos se será dada uma vez que ele esta sob suspeita de um crime, mas como é uma suspeita não há certezas e nós tínhamos que informa-lo da situação.
-Eu ainda não lhe sei dar uma resposta, porque não posso responder a isso antes de falar com ele. E por enquanto não sei. Mas quando falar falo com ele sobre isso. Depois entramos em contacto.
-Claro. Obrigado pela disponibilidade.
-De nada.
Uma afilhada, que perdeu os pais. E agora logo nesta altura em que tudo está a desabar. - pensou ela quando fechou a porta. Ainda ia a meio da tarde, mas estava cansada, já não dormia em condições há dias. Levantou-se do sofá onde acabara de se sentar e foi para o quarto, fechou as janelas deitou-se na cama e dormiu.
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