terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Querer

Estou prestes a mergulhar num mar profundo onde tudo é escuro, e tudo é triste, onde tudo o que é bom está escondido e apenas as coisas más aparecem, onde toda a esperança afoga-se e acaba, e apenas a dor e a desilusão prevalecem. Sim deixa-me mergulhar ! Deixa-me sentir na pele, deixa-me queimar-me por dentro, deixa-me sufocar, deixa-me apenas. Quero mergulhar na profunda escuridão do meu ser, quero descobrir um tom de negro mais negro que o mais negro dos negros, e sentir-me confortável nesse lugar, distante mas tão próximo. Sinto a tua falta ! Socorro ! Não me deixem mergulhar ! Profundo, negro, só, sou eu, senti-me agora. Sinto tão mais profundamente a tristeza do que qualquer tipo de felicidade, marca, dor, permanece, não passa, não esgota, não para. Sinto-me a adormecer, no meio da escuridão, não me acordes ! Quando estou acordado sou tão mais irritadiço, sou tão mais quem eu não quero ser, vou apenas para onde não quero ir. Quero-te perto de mim ! Não me deixes ! 
Tudo para quando, quando, quando, num momento penso que é possível, mas quando tudo se torna claro, as luzes ofuscam-me mostrando-me que era tudo apenas uma ilusão criada pelo desejo de alguma coisa. Porque ? Porque ? Porque eu ? Porque tudo tem que ser assim ? Silêncio. Insistência teimosa em perguntas cuja a resposta não chega, nem vai chegar. Silêncio. 
Os seus olhos eram rodeados de negro natural, o seu sorriso não era manipulado por ferros e armações, o seu cabelo não era tratado com mil e um produtos, a sua pele não era tratada por mil e um cremes, as suas imperfeições faziam dela o ser mais belo, o ser mais perfeito na sua imperfeição, o ser natural, transparente. A sua beleza era superior a de mil divas artificiais, sem dúvida para isso. Também a forma como ela despedaçara-lhe o coração fora natural, transparente, porém dolorosa. Cacos, pedaços, partes, foi tudo o que restou do nada que ele um dia fora. Sem piedade, ela tirou o único sentido que ele seguia, que não era sentido nenhum. Ódio, raiva, obsessão, tristeza, luto. Uma alma perdera-se. Corvos voam pelo céu, e arrastam consigo sinais de morte. Corvos voam pelo céu, e arrastam consigo sinais de morte. Corvos voam pelo céu, e arrastam consigo sinais de morte. 
Vêm! Volta ! Solta-me! Liberta-me da Minha prisão! Ajuda-me ! Alguém ! Algum ! 
No dia da minha morte, não preciso que chorem sobre a minha sepultura, não preciso de flores, não preciso que se importem, não mais do que se importaram do que quando estava vivo. Não preciso de admiração, nem de amor depois de morto. Arrasta-me, arrasta-me arrasta-me para junto de ti. 
Profundo, escuro, sombrio, silêncio do nada. Cega-me! Magoa-me ! Faz de mim o que quiseres ! Em ti sinto-me seguro, em ti sinto-me eu. 
Não é a escuridão, a tristeza, o vazio que quero. Quero-te a ti, mais do que alguma vez quis alguém. 

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